Ataques frustrados aos shows de Taylor Swift em Viena pretendiam matar milhares, segundo a CIA

Três jovens foram detidos por suspeita de planejar os atentados na capital da Áustria, supostamente em nome do Estado Islâmico

Os suspeitos de um plano para atacar os shows de Taylor Swift em Viena no início deste mês queriam matar “dezenas de milhares” de pessoas. No entanto, a CIA, Agência Central de Inteligência dos EUA, descobriu informações que impediram o ataque e levaram à prisão dos envolvidos, segundo o vice-diretor da agência. As informações são da Associated Press.

A CIA informou as autoridades austríacas sobre o plano, que supostamente estava ligado ao grupo Estado Islâmico (EI). As informações coletadas e as prisões subsequentes resultaram no cancelamento de três shows lotados da Eras Tour, desapontando fãs que vieram de diferentes partes do mundo para assistir a cantora ao vivo.

David Cohen, vice-diretor da CIA, falou sobre o plano frustrado durante uma cúpula anual de inteligência, realizada nesta semana em Maryland, nos EUA.

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Taylor Swift em show em Detroit (Foto: Wikimedia/Creative Commons)

Cohen afirmou que os suspeitos planejavam matar dezenas de milhares de pessoas. “Eles estavam conspirando para matar um número enorme, dezenas de milhares de pessoas neste show, incluindo, tenho certeza, muitos americanos, e estavam bem avançados nisso”, disse.

Cohen destacou que as prisões na Áustria foram possíveis graças às informações fornecidas pela CIA e seus parceiros sobre o plano do grupo conectado ao Estado Islâmico.

Os shows de Taylor Swift em Viena, que começariam em 8 de agosto, foram cancelados pela Barracuda Music, organizadora de eventos na cidade, após as autoridades austríacas informarem sobre o plano de ataque frustrado.

O principal suspeito do plano, de 19 anos, junto com um jovem de 17, foi preso em 6 de agosto, um dia antes dos shows serem cancelados. As autoridades austríacas disseram que o suspeito, cuja identidade não foi revelada por causa das leis de privacidade, foi inspirado pelo EI e planejava atacar do lado de fora do estádio, onde eram esperados mais de 30 mil fãs, utilizando facas ou explosivos feitos em casa. Um terceiro suspeito, de 18 anos, foi preso em 8 de agosto.

Durante uma busca na residência do suspeito, os investigadores encontraram substâncias químicas e equipamentos técnicos.

O advogado do jovem de 19 anos disse que as acusações contra ele eram “exageradas” e acusou as autoridades austríacas de exagerarem a situação para justificar a aquisição de novos poderes de vigilância.

Alerta de segurança na Europa

A Europa está em alerta desde o início do conflito entre Israel e Hamas, com ataques e ameaças registrados em diversos países. Em 16 de outubro do ano passado, dois cidadãos suecos foram mortos em Bruxelas, na Bélgica, por um tunisiano que vivia ilegalmente no país e que alegou ter cometido o ato em nome do EI, que confirmou a filiação.

O agressor, Abdesalem Lassoued, morto pela polícia belga, disse que agiu motivado pelo sentimento de vingança devido aos episódios de queima do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, ocorridos na Suécia em 2023. Por isso, os alvos dele foram cidadãos suecos, que visitavam a Bélgica justamente por conta de uma partida de futebol, cenário que poderia se repetir durante a Eurocopa.

Segundo levantamento do site independente russo Important Stories, ao menos cinco países europeus evitaram ataques coordenados pelo EI-K desde 2023. A Alemanha realizou em julho de 2023 uma operação conjunta com a Holanda e prendeu terroristas que diziam servir ao grupo afegão. As outras nações que conseguiram frear os planos do grupo foram Áustria, Espanha e França.

Por que isso importa?

O EI passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes.” No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização.”

Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares.” Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.

Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.

O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz a ONU, citando a África como uma região de particular preocupação.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, HezbollahHamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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