Embora enfraquecido, EI ainda tem cerca de 500 combatentes no Iraque, diz analista

General da coalizão antijihadista internacional diz que derrotas levaram o grupo a se esconder em regiões remotas do país

A ofensiva liderada pelos EUA impôs duras derrotas ao Estado Islâmico (EI) nos últimos anos, com a perda de seus califados no Iraque e na Síria e o comprometimento da capacidade de recrutamento da organização. Apesar dos reveses, o grupo extremista ainda conta com cerca de 500 combatentes no Iraque e continua ativo por lá, segundo o general iraquiano Qais al-Mohamadawi. As informações são do site The Defense Post.

Mohamadawi, que integra a coalizão antijihadista internacional, diz que o EI foi forçado a mudar sua abordagem. Hoje, os insurgentes se escondem em remotas regiões desérticas ou montanhosas. Além dos muitos extremistas mortos, outros tantos, bem como seus parentes, vivem em campos de detenção.

No final do ano passado, o Comando Central (Centcom) das forças armadas dos EUA disse ter realizado 108 operações contra o grupo na Síria, com 466 terroristas mortos, e outras 191 operações no Iraque, com 220 mortos. Ainda assim, o general norte-americano Michael Kurilla alerta que a ameaça persiste, vez que o grupo tem um “exército em detenção”, citando campos como o de Al-Hol, na Síria.

Soldados do Iraque em ação contra o Estado Islâmico em 2016 (Foto: reprodução/Twitter)

Se no Iraque o número de membros do EI se limita a 500, conforme a projeção de Mohamadawi, na Síria esse número tende a ser bem maior. No mês passado, um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) “estima que o EI tenha de cinco mil a sete mil membros e apoiadores espalhados entre os dois países, cerca de metade dos quais são combatentes”.

Assim como afirmou o militar iraquiano, o grupo vem “tentando afastar sua liderança das áreas de maior pressão antiterrorista”, espalhando células de 15 a 30 indivíduos por regiões remotas sobretudo da Síria.

“No Iraque, a insurgência do EI continua eficaz”, acrescenta o documento da ONU. “O grupo manteve sua capacidade de perpetrar ataques, apesar dos esforços antiterroristas iraquianos que mataram cerca de 150 agentes do EI neste ano (2022). O grupo operava em áreas rurais montanhosas, lucrando com a porosa fronteira entre o Iraque e a Síria”.

Por que isso importa?

Embora ainda seja relevante no cenário extremista global, o EI tem se enfraquecido financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

Em fevereiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. Já o sucessor dele, Abu al-Hassan al-Hashemi al-Qurashi, foi morto em novembro, segundo anunciou o próprio grupo.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.

A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.

Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.

“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.

No Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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