Coalizão militar africana diz que jatos brasileiros mataram importante liderança do EI

Ammar Bin-Umar teria sido enviado ao continente para coordenar ataques com o ISWAP, facção do Ei na região do lago Chade

Autoridades da coalizão militar composta por tropas de NigériaNíger e Camarões dizem ter matado uma importante figura do Estado Islâmico (EI) em ataques aéreos realizados na região do Lago Chade, principal foco da onda extremista no continente africano. As informações são do jornal nigeriano Vanguard.

Ammar Bin-Umar, o terrorista supostamente morto pelas forças africanas, em data não especificada, estaria no continente africano para se reunir com integrantes da facção do EI na região, o  ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental). Eles estariam coordenando novos ataques na África.

Um oficial com conhecimento das operações disse que a morte de Bin-Umar ocorreu em um bombardeio comandado por jatos brasileiros Super Tucano, produzidos pela Embraer para a força aérea nigeriana. Jatos e helicópteros da força aérea do Níger também fizeram parte da missão.

Coalizão militar africana diz ter matado uma importante liderança do Estado Islâmico
Jato brasileiro Super Tucano, da Embraer, a serviço da força aérea da Mauritânia, abril de 2013 (Foto: Wikimedia Commons)

No último domingo (17), a coalizão afirmou que suas operações levaram à morte cerca de cem combatentes de grupos extremistas islâmicos na Região do Lago Chade. Além do ISWAP, o Boko Haram também atua na área. Bin-Umar teria morrido em meio ao combate, quando tentava fugir da área.

“Os ataques cirúrgicos liderados pela inteligência em Kwalaram, Sabon Tumbun e Jibularam forçaram os grupos terroristas a se mudarem e procurarem novos esconderijos nas áreas de Kwalori, Doron Kirta, Buningyil e Lokon Libi dentro do vasto Lago Chade”, disse a fonte militar, que pediu anonimato.

Além de coordenar ataques, o líder terrorista estaria na região para supervisionar campos de treinamento de extremistas. De acordo com Zagazola Makama, especialista em contraterrorismo no Lago Chade, tais centros são usados inclusive para treinar crianças-soldado. Familiares dos combatentes que viviam na região conseguiram fugir a tempo ara outros esconderijos do ISWAP, segundo o militar.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

Em janeiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. O evento foi semelhante a outro, em 2019, que terminou com a morte do líder anterior da organização extremista, Abu Bakr al-Baghdadi.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.

A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.

Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.

“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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