Resolução do Senado dos EUA reconhece ações russas como genocídio

Apoio bipartidário pelo fim das agressões a Kiev partiu de representantes democratas e republicanos

Um grupo de senadores dos EUA, entre democratas e republicanos, apresentou na quinta-feira (21) uma resolução que reconhece como genocídio as ações do exército russo na Ucrânia. Os parlamentares sustentam o posicionamento com base nas deportações forçadas para a Rússia e o “assassinato proposital” de civis ucranianos em “atrocidades em massa”, manifestando apoio bipartidário de Washington a Kiev pelo fim das agressões. As informações são do jornal The Hill.

Os principais nomes frente à declaração são Jim Risch, de Idaho, principal republicano do Comitê de Relações Exteriores do Senado, e Ben Cardin, democrata de Maryland e outra importante figura da comissão. 

“Não há dúvida de que o que a Rússia está fazendo na Ucrânia é um genocídio”, disse Risch em comunicado. 

O político, que esteve em Kiev, Irpin e Hostomel em julho e ouviu histórias sobre supostas violações do direito internacional pelas forças russas, acrescentou que a comunidade global está documentando “os muitos abusos” que constituem crimes de guerra em toda a Ucrânia. “É hora de os Estados Unidos e o mundo reconhecê-los como tal”, disse.

Jim Risch, senador norte-americano pelo Estado de Idaho (Foto: U.S. Department of Agriculture/Flickr)

A resolução ainda manifesta apoio a tribunais e investigações criminais internacionais para responsabilizar lideranças russas, tanto políticas quanto militares, por uma guerra de agressão e crimes contra a humanidade.

Para Cardin, a Rússia está ocupada não só em dilacerar a vida das pessoas e destruir edifícios no país vizinho, mas também está “tentando eliminar a língua, a história e a cultura ucraniana”, disse o senador em comunicado. “Isso é genocídio. O mundo deve reconhecer este fato e os responsáveis ​​devem ser responsabilizados”.

A deliberação emitida pelos parlamentares solicita ainda aos EUA, juntamente com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a União Europeia (UE), que “apoiem o governo da Ucrânia para impedir novos atos de genocídio russo contra o povo ucraniano”.

Responsabilidade global

Durante audiência na quarta-feira (20) da Comissão de Helsinque, uma agência norte-americana que promove os direitos humanos, o deputado ucraniano Oleksiy Goncharenko disse a parlamentares presentes que a Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio determina que “é responsabilidade de todos os países do planeta fazer tudo que é possível para pará-lo (o genocídio), o mais rápido possível”. E acrescentou: “No caso ucraniano, significa dar-nos armas”.

Goncharenko afirmou que o que está sendo feito pelas tropas de Vladimir Putin é, de fato, um genocídio. “E eu lhes asseguro e encorajo a adotar esses projetos de lei que você tão gentilmente patrocinaram e apresentaram o mais rápido possível”, disse ele, referindo-se à resolução do Senado. 

Na segunda-feira (18), dezoito republicanos da Câmara votaram contra uma resolução que apoia a adesão da Finlândia e da Suécia à Otan. A expansão da aliança atlântica é vista como uma repreensão à invasão russa ao território ucraniano.

O presidente Joe Biden já descreveu as ações de Moscou como genocídio. No entanto, o Departamento de Estado ainda não emitiu uma declaração formal, o que provavelmente desencadearia ações concretas da comunidade internacional.

Por que isso importa?

Estuprotorturarecrutamento forçadoexecuções sumárias, restrições à liberdade de movimento e estrutura civil danificada intencionalmente. Estes são alguns dos possíveis crimes de guerra que a ONU documentou na Ucrânia. Na atualização mais recente de seu balanço do conflito, o OHCHR (Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos) relatou mais de dez mil vítimas civis, entre mortos e feridos, e afirmou que as hostilidades “aparentemente não têm fim à vista”.

Um dos episódio mais pesados ocorreu em Bucha, onde corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas da cidade ucraniana quando as tropas locais reconquistaram a área, três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

A Rússia, que nega ter alvejado civis ou ter cometido crimes de guerra, também deve promover julgamentos. Um sinal já foi dado por Denis Pushilin, líder pró-Kremlin da autoproclamada República Popular de Donetsk (RPD), que disse que planeja “organizar um tribunal internacional na república” para os cerca de 2,5 mil soldados ucranianos feitos prisioneiros após se renderem enquanto defendiam a siderúrgica de Azovstal, em Mariupol

Tags: