Alemanha analisa componentes de Huawei e ZTE na rede 5G e cogita bani-los

Empresas chinesas enfrentam crescente desconfiança global pela suspeita de que sejam obrigadas a servir aos interesses de Beijing

O governo da Alemanha deu início a um processo de verificação de segurança de todos os componentes instalados na rede 5G do país que tenham sido fornecidos pelas chinesas Huawei e ZTE. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

De acordo com o Ministério do Interior, o objetivo da checagem é assegurar que os equipamentos provenientes das duas companhias não representem uma ameaça à ordem pública e à segurança nacional alemãs. A ordem é verificar todos os componentes, sem exceção.

Antes, o governo alemão realizava apenas uma verificação prévia de itens a serem usados posteriormente nas redes 5G. “A principal mudança é que essas verificações rigorosas de possíveis riscos de segurança agora também se aplicam aos componentes existentes nas redes de telecomunicações”, disse um porta-voz do Ministério.

Numa etapa posterior, não está descartada a possibilidade de que os componentes fornecidos por companhias chinesas sejam proibidos no país europeu, embora oficialmente o governo alemão ainda negue essa possibilidade.

Beijing se adiantou e manifestou contrariedade com o possível veto, instando Berlim a ouvir “vozes racionais” e se dizendo “muito intrigada e fortemente insatisfeita com a decisão precipitada”. De acordo com o governo da China, a desconfiança em torno das empresas do país carece de “base factual”.

A Huawei está presente nas redes de telecomunicações usadas por três operadoras de telefonia móvel alemãs: Deutsche Telekom, Vodafone e O2. Todas se recusaram a falar abertamente sobre o caso, dando respostas evasivas aos questionamentos da reportagem.

Sede da chinesa Huawei nos Estados Unidos: empresa chinesas está na mira do Ocidente (Foto: Flickr)
Por que isso importa?

Os fornecedores chineses de equipamentos de telecomunicações enfrentam crescente desconfiança global na construção de redes 5G, com sua presença rejeitada em vários países. A Huawei é o principal alvo de suspeitas, com AustráliaNova ZelândiaCanadá, Estados UnidosReino Unido tendo banido a fabricante por medo de que a China possa usá-la para espionagem

A desconfiança é baseada na suposta proximidade das companhias do setor com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar as gigantes da telefonia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).

Um caso em particular se enquadra nesse cenário. Em janeiro de 2017, a União Africana (UA) descobriu que os servidores de sua sede, na capital etíope Adis Abeba, enviavam diariamente, durante a madrugada, dados sigilosos a um servidor na China e que o prédio estava repleto de microfones escondidos. Os servidores foram trocados, mas um problema semelhante se repetiu em 2020, quando os novos servidores foram invadidos por hackers chineses que roubaram vídeos de vigilância das áreas interna e externa.

Não por coincidência, o prédio havia sido construído com financiamento chinês, por uma construtora chinesa. E os servidores originais, aqueles de 2017, eram chineses. Esse episódio, com o qual Beijing nega ter relação, explica a desconfiança generalizada com a infraestrutura digital proveniente da China.

No Brasil, o aumento da presença da Huawei na rede de telefonia vai na contramão da tendência global. São da empresa chinesa mais de 80% das antenas que retransmitem sinal das atuais redes 2G, 3G e 4G brasileiras. E, de acordo com conteúdo patrocinado publicado em veículos como O Globo em maio de 2021, a companhia dizia ser responsável por mais de cem mil quilômetros de fibra óptica no país.

A alternativa encontrada pelo governo brasileiro para reduzir o impacto de eventuais brechas de segurança foi a criação de uma rede 5G governamental exclusiva, sem a presença de infraestrutura chinesa. “Hoje, a Huawei não está apta a participar da rede privativa, segundo o que foi colocado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e pela nossa portaria”, disse o ex-ministro das Comunicações Fábio Faria, no início de novembro de 2021, quando foi realizado o leilão das bandas de 5G.

Tags: