Bélgica prende adolescentes acusados de planejar atentado terrorista

Três menores de idade e m um jovem de 18 anos foram detidos em cidades diferentes porque trocaram mensagens sobre uma ação futura

As forças de segurança da Bélgica detiveram no domingo (3) quatro jovens, três deles menores de idade, sob a acusação de que planejavam um ataque terrorista. A ação simultânea da polícia ocorreu em quatro cidades diferentes do país, inclusive na capital Bruxelas. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

Segundo as autoridades, os jovens, um deles de 18 anos e os demais menores de idade, mantiveram contato, mesmo à distância, e debateram a possibilidade de realizarem juntos uma ação jihadista.

“Não é que eles estivessem planejando algo para amanhã, mas ainda era iminente o suficiente para intervir”, disse o porta-voz do Ministério Público Federal, Eric Van Der Sypt.

As casas dos suspeitos foram invadidas, com celulares e laptops apreendidos para análise. A ação é parte de uma grande operação policial para identificar e prender indivíduos que são considerados ameaças potenciais à segurança devido à ligação com o extremismo islâmico violento.

Desde 2023 a Europa está em alerta para o risco de ataques terroristas, com dois episódios recentes, ambos com vítimas fatais, justificando a precaução. O atentado que fez o continente abrir os olhos ocorreu justamente em Bruxelas, no dia 16 de outubro, onde um homem de origem tunisiana, que havia jurado lealdade ao Estado Islâmico (EI), matou dois cidadãos suecos com um rifle.

Agentes de polícia belgas: terrorismo volta a ser uma preocupação na Europa (Foto: Pxhere)

O extremista, mais tarde morto pela polícia belga, disse que agiu motivado pelo sentimento de vingança devido à queima do Alcorão por manifestantes na Suécia. Por isso os alvos dele foram cidadãos suecos, que visitavam a Bélgica por conta de uma partida de futebol.

Mais tarde, no dia 2 de dezembro, um cidadão alemão foi morto a facadas em Paris por um homem que disse ter agido em nome da mesma organização terrorista.

Também foram registradas diversas ameaças de bomba em países do continente, levando ao fechamento de escolas em Viena, na Áustria, em Bruxelas, na Bélgica, e de atrações turísticas como o Museu do Louvre, em Paris.

Após o atentado de Bruxelas, o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que “todos os Estados europeus são vulneráveis, ​e há de fato um ressurgimento do terrorismo islâmico.”

Ylva Johansson, chefe de assuntos internos da União Europeia (UE), fez manifestação semelhante, dizendo que a guerra aumentou a “polarização” na Europa, segundo a rede Euronews.

Terrorismo global enfraquecido

Embora as ações antiterrorismo globais tenham enfraquecido os dois principais grupos jihadistas do mundo, Estado Islâmico (EI) e Al-Qaeda, ambos conseguem se manter relevantes e atuantes. A estratégia dessas duas organizações inclui o recrutamento de novos seguidores através da internet e a forte presença em zonas de conflito como a África, onde são representadas por grupos afiliados regionais. O Afeganistão, agora sob o comando do Taleban, também é um porto seguro para muitos jihadistas.

O continente africano ganhou importância em meio às derrotas impostas às grandes organizações jihadistas em outras regiões, caso do Oriente Médio. Em 2017, o exército iraquiano anunciou a derrota do EI no Iraque, com a retomada de todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. O EI, que chegou a controlar um terço do país, hoje mantém por lá apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas do grupo na Síria.

Em fevereiro do ano passado, o EI sofreu um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, líder da facção. Em outubro, o próprio grupo revelou que Abu al-Hassan al-Hashimi al-Qurashi, sucessor de Abu Ibrahim, também foi morto. Um terceiro líder do grupo, Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, foi morto em abril de 2023.

No caso da Al-Qaeda, que igualmente mantém facções relevantes na África, a sobrevivência do grupo pode ser explicada também pela tomada de poder pelo Taleban no Afeganistão. “As avaliações dos Estados-Membros até agora sugerem que a Al-Qaeda tem um porto seguro sob o Taleban e maior liberdade de ação”, diz relatório da ONU divulgado no final de maio do ano passado.

“A Al-Qaeda permanece no sul e leste do Afeganistão, onde tem uma presença histórica”, diz o relatório. “O grupo supostamente tem de 180 a 400 combatentes, com as estimativas dos Estados-Membros inclinando-se para o número mais baixo”, prossegue o documento, que cita cidadãos de Bangladesh, Índia, Mianmar e Paquistão como sendo integrantes da facção.

O ex-líder da organização Ayman al-Zawahri, inclusive, foi morto em território afegão em um ataque das forças armadas dos EUA no dia 1º de agosto de 2022.

Anteriormente, a ONU já havia lembrado que a Al-Qaeda chegou a parabenizar publicamente os talibãs pela ascensão ao poder. E alegou que um filho de Bin Laden, Abdallah, visitou o Afeganistão em outubro de 2021 para reuniões com o Taleban.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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