Vladimir Putin pede aos cidadãos russos que não acreditem na Wikipédia

Enciclopédia online é um dos poucos lugares em que os russos podem obter informações sobre a guerra sem censura estatal

Em entrevista à mídia estatal nesta quinta-feira (5), o presidente Vladimir Putin orientou os russos a não confiarem na Wikipédia. A declaração faz parte da campanha do Kremlin contra a enciclopédia online desde que a plataforma se negou a remover conteúdo relacionado à invasão da Ucrânia. As informações são da revista Forbes.

“Você não pode simplesmente usar a Wikipédia”, declarou Putin ao questionar a “qualidade da informação”, traduziu o Meduza, veículo independente investigativo russo atualmente baseado na Letônia, que há tempos vem sendo perseguido pelo governo Putin.

O presidente Vladimir Putin acompanha o diálogo entre Rússia e Alemanha no Kremlin, Moscou, em janeiro de 2020 (Foto: Divulgação/Kremlin)

O ataque do mandatário russo está associado ao fato de que o conteúdo da enciclopédia livre sobre a incursão das tropas russas à ex-república soviética está em desacordo com a narrativa oficial do seu regime, que define a guerra como uma “operação militar especial”. Isso inclui desconformidade com estimativas de Kiev quanto ao número de baixas entre as tropas russas e de civis ucranianos.

Desde que a censura russa entrou em ação no começo de março, impondo bloqueio parcial do acesso ao Facebook, ao Twitter e a diversos sites informativos locais e estrangeiros no país, Wikipédia e YouTube são uma espécie de “resistência”, nos quais os russos podem acessar informações de guerra. Ambas as plataformas seguem permitindo informações na Rússia, desafiando as ameaças do Kremlin em derrubar conteúdo e aplicar multas.

Um porta-voz da Wikipedia Foundation, organização que administra a enciclopédia, disse à Forbes em abril que a “escalada” de Putin não alterou o compromisso da Wikipédia de apoiar o “direito fundamental de acesso livre, aberto e informações verificáveis”.

Por que isso importa?

Organizações não-governamentais, veículos de imprensa e os colaboradores de ambos têm sido o principal alvo da repressão do presidente Vladimir Putin, com o respaldo da Justiça do país. A perseguição se escora na “lei do agente estrangeiro”, que foi aprovada em 2012 e modificada diversas vezes, dando às autoridades o poder de acessar todas as informações privadas das instituições e indivíduos rotulados.

A designação “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. Entidades listadas também são obrigadas a rotular com o selo de “agente estrangeiro” todo conteúdo que venham a divulgar, algo que afeta particularmente as organizações de mídia.

Órgãos e indivíduos que não atendam às exigências impostas pela lei podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo, e as organizações podem ser proibidas de funcionar. A classificação também afasta potenciais parceiros comerciais e anunciantes, muitas vezes sufocando financeiramente as instituições listadas.

Tal sistema repressivo tem sido a principal arma do Kremlin para calar os críticos, levando a ordens de prisão, casos de exílio forçado e ao fechamento de entidades.

censura na Rússia, que já era forte antes da invasão da Ucrânia por tropas russas, tem se intensificado durante a guerra. Em março, o Legislativo aprovou um projeto de lei que criminaliza a distribuição do que o governo vier a considerar “notícias falsas” sobre operações militares russas.

De acordo com o texto legal, passa a ser proibido publicar conteúdo “contra o uso de tropas russas para proteger os interesses da Rússia” ou “para desacreditar tal uso”, o que prevê uma pena de até três anos de prisão. A mesma punição se aplica àqueles que venham a pedir sanções ao país.

Em certos casos, o artigo prevê pena máxima de até dez anos de prisão, mas pode haver agravantes que venham a aumentar a sentença. Nos casos que a Justiça considere terem gerado “consequências sérias”, a punição sobe para até 15 anos. As nova lei será inserida em um artigo separado no Código Penal russo

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