Resolução do Parlamento Europeu fala em ‘sério risco de genocídio’ em Xinjiang

União Europeia aprovou uma segunda resolução, essa com efeitos práticos, que bane produtos feitos com base em trabalho forçado

Uma resolução aprovada pelo Parlamento Europeu na quinta-feira (9) condena “nos mais fortes termos” o que classifica como “crimes contra a humanidade” e “sério risco de genocídio” por parte do governo da China na região de Xinjiang, onde vivem minorias étnicas como os uigures. As informações são da Radio Free Asia.

Trata-se de uma resolução não vinculativa, que não prevê a adoção de medidas práticas contra Beijing. E, embora tenha usado a palavra “genocídio“, ela não classifica efetivamente as ações do governo chinês como tal.

O documento diz apenas que há “evidências confiáveis sobre medidas de prevenção de nascimentos e a separação de crianças uigures de suas famílias, que constituem crimes contra a humanidade e representam um sério risco de genocídio”.

O Parlamento também afirma que condena “nos termos mais fortes possíveis que os uigures sejam sistematicamente oprimidos por medidas brutais, incluindo deportação em massa, doutrinação política, separação familiar, restrições à liberdade religiosa, destruição cultural e uso extensivo de vigilância”.

Diante das acusações, a União Europeia (UE) aprovou uma segunda resolução, essa com efeitos práticos, que bane dos países do bloco produtos feitos com base em trabalho forçado, o que tende a impactar diretamente nos bens provenientes de indústrias de Xinjiang.

O órgão ainda cobrou a alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os direitos humanos, Michelle Bachelet, para que redija o aguardado relatório sobre violações de direitos humanos, dizendo que ela até agora “não conseguiu responsabilizar claramente o governo chinês”.

Panorama de Urumqi, capital de Xinjiang, com as montanhas de Yamalik ao fundo (Foto: Wikimedia Commons)
Visita da ONU contestada

Em maio, Bachelet fez uma viagem de seis dias à China, tendo Xinjiang como um dos destinos. Ela foi alvo de duras críticas por ter aceitado o convite de Beijing, com grupos humanitários e governos ocidentais alertando que a visita serviria apenas para maquiar os problemas e reduzir o escrutínio global no que tange à questão dos direitos humanos.

Após a visita, a declaração amena publicada no site da ONU deu razão aos críticos. No comunicado, sobraram até elogios ao governo do Partido Comunista Chinês (PCC), destacando “a redução da pobreza e a erradicação da pobreza extrema, dez anos antes da data prevista” como sendo “grandes conquistas da China”.

Xinjiang foi citada, mas Bachelet admitiu que não visitou nenhum Centro de Educação e Formação Profissional (VETCs, na sigla em inglês), os populares campos de desradicalização, onde são detidos os uigures. “Durante minha visita, o Governo garantiu que o sistema VETC foi desmantelado”, limitou-se a dizer.

As acusações contra o governo chinês de abusos nesse sentido, segundo ela, foram apenas citadas durante a visita. “Na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, levantei questões e preocupações sobre a aplicação de medidas antiterroristas e de desradicalização e sua ampla aplicação – particularmente seu impacto sobre os direitos dos uigures e outras minorias predominantemente muçulmanas”.

Por que isso importa?

A província de Xinjiang, no noroeste da China, faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas. Ali vive a comunidade uigur, uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos.

Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. .

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirma que o trabalho forçado uigur é “a maior mentira do século”. “Os Estados Unidos tanto criam mentiras quanto tomam ações flagrantes com base em suas mentiras para violar as regras do comércio internacional e os princípios da economia de mercado”, disse ele.

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