A Índia tem fornecido vacinas gratuitas contra a Covid-19 aos países vizinhos do sul da Ásia, parte da estratégia do governo do primeiro-ministro Narendra Modi de conter a “diplomacia dos imunizantes” da China na região.
Ao todo, a Índia deve enviar entre 12 e 20 milhões de doses aos vizinhos, disseram fontes do governo – forma de posicionar a Índia como uma “alternativa” aos chineses.
Todas as doses vêm do Serum Institute of India, maior produtor mundial de imunizantes. A vacina indiana, neste caso, é a desenvolvida pela farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca.
Dois dias após um golpe militar, Mianmar começou sua campanha de vacinação na quarta (3) após receber 1,5 milhão de doses de Nova Délhi, informou a Nikkei Asia.
Também foram enviadas remessas para Maldivas, Butão, Bangladesh, Seychelles e Nepal. “O governo da Índia mostrou boa vontade ao fornecer a vacina”, disse o ministro da Saúde nepalês, Hridayesh Tripathi.
Há anos a Índia tenta acompanhar o ritmo de investimentos chineses em países como Sri Lanka, Nepal e Maldivas. Nesses locais, Beijing financia a construção de portos, estradas e usinas elétricas por meio da iniciativa do Cinturão da Rota da Seda.
A demanda por vacinas, após o colapso econômico gerado com a paralisação do turismo nessas nações, é uma oportunidade para a Índia recuperar parte dessa influência, disseram diplomatas à Reuters.
Além das doses, o país também auxilia no treinamento de profissionais e na criação de infraestrutura para administrar os imunizantes. “É uma série de ações que confirmam a validade da política de boa vizinhança”, disse o diplomata indiano Rajiv Bhatia, que já comandou postos no México, na África do Sul, em Mianmar e no Quênia.
Acusações de interferência
A China, por sua vez, já mandou 500 mil doses ao Paquistão e deve encaminhar pelo menos 300 mil a Mianmar até o final de fevereiro.
O governo chinês não fala em competição no fornecimento de vacinas, mas a mídia estatal acusa a Índia de “interferência” por “impedir” o uso de vacinas chinesas no sul da Ásia, registrou o diário indiano “The Hindu”.
“Existem várias vacinas contra a Covid-19 no mercado e os países devem ser capazes de fazer suas próprias escolhas de forma independente”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian.
“Essa questão não pode dar lugar a uma competição maligna, muito menos à rivalidade. Esperamos que mais doses de vacinas seguras e eficazes sejam fabricadas e fornecidas a mais países, para beneficiar mais pessoas”.
A China já enviou remessas da vacina à América Latina, onde vê aberturas para fomentar boa relação diplomática e econômica em meio à disputa com os EUA por hegemonia.