Alemanha investiga seu chefe de segurança digital por suposta ligação com Moscou

Arne Schoenbohm criou grupo de segurança digital que reúne entidades públicas e privadas, uma delas ligada a um ex-agente russo

A Alemanha colocou sob investigação Arne Schoenbohm, que chefia o Departamento Federal de Segurança da Informação (BSI, na sigla em alemão) do país. Ele é suspeito de ligação com a Inteligência da Rússia, segundo informações da agência Associated Press (AP).

“O Ministério do Interior leva a sério os assuntos relatados no fim de semana e os está investigando de forma abrangente”, disse a pasta em comunicado divulgado à imprensa.

Há cerca de dez anos, Schoenbohm fundou um grupo de segurança digital que reúne entidades dos setores privado e público. Porém, recentemente foi noticiado pela mídia alemã que uma das empresas participantes havia sido fundada por um agente russo, o que colocou o grupo sob suspeita.

Casos de espionagem, ataques cibernéticos e até ações de sabotagem têm se repetido na Alemanha, invariavelmente atribuídos a agentes russos. Atualmente, o maior temor de Berlim é o de que sua infraestrutura crítica seja alvo de Moscou devido ao apoio do governo alemão à Ucrânia na guerra.

No último sábado (8), a Deutsche Bahn (DB), operadora do sistema ferroviário da Alemanha, foi alvo de uma ação que interrompeu a circulação de trens de carga e de passageiros por cerca de três horas. O Ministério dos Transportes suspeita de sabotagem, vez que cabos essenciais para a segurança do tráfego ferroviário foram deliberadamente cortados.

No início de setembro, Berlim havia anunciado que dois funcionários do Ministério da Economia estavam sob investigação por suspeita de espionagem em favor da Rússia.

Os nomes dos indivíduos não foram revelados, apenas que são responsáveis por questões energéticas sensíveis. Eles teriam ajudado a alimentar um debate pró-Moscou sobre o tema, espalhando críticas ao chanceler Olaf Sholz por suspender o processo de regularização do gasoduto Nord Stream 2.

Prédio do Bundestag, o parlamento da Alemanha (Foto: Jorge Royan/Wikimedia Commons)
Por que isso importa?

As atividades de espionagem russas na Alemanha aumentaram muito nos últimos anos, atingindo níveis semelhantes aos dos tempos de Guerra Fria. Em junho de 2021, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.

A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco. Inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang disse que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, afirmou.

Alguns casos ligados à espionagem russa na Alemanha vieram a público, como o ataque cibernético contra 38 parlamentares alemães em março de 2021. A invasão faria parte da campanha “Ghostwriter”, supostamente do GRU (Serviço de Inteligência Militar da Rússia). O alvo eram políticos do SPD (Partido Social Democrata) e da CDU (União Democrática Cristã), esta a sigla da então chanceler Angela Merkel.

Em dezembro do ano passado, a Promotoria da Alemanha pediu prisão perpétua, sem direito a liberdade condicional, em ação contra o russo Vadim Krasikov, acusado de atirar em Zelimkhan Khangoshvili, pseudônimo adotado por Tornike Kavtarashvili, um ex-comandante checheno que vivia em Berlim. O crime teria sido ordenado por Moscou.

Segundo os promotores encarregados do caso, o crime foi encomendado pelo Estado russo não apenas como retaliação, mas também como uma mensagem intimidadora a outros chechenos que busquem asilo no exterior.

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