China proíbe budistas tibetanos de compartilhar conteúdo religioso online

Beijing usa lei de março de 2022 para censurar qualquer conteúdo religioso considerado prejudicial pelo Partido Comunista Chinês

A repressão religiosa imposta pelo governo da China tem atingido duramente os budistas tibetanos. Na mais recente medida de censura aplicada por Beijing, monges, escritores e outras pessoas influentes vêm sendo impedidas de compartilhar conteúdo religioso pela internet, segundo relato da rede Radio Free Asia (RFA).

O regime de Xi Jinping tem usado uma lei de março de 2022 para filtrar o conteúdo religioso inserido na internet. Qualquer material que venha a ser considerado prejudicial pelo Partido Comunista Chinês (PCC) acaba censurado.

“Quando o governo chinês começou a implementar a lei, os escritores tibetanos e aqueles que são influentes foram particularmente visados ​​e examinados”, disse um tibetano que pediu para não ser identificado por razões de segurança. 

De acordo com a mesma fonte, atualmente não há exceção permitida pelo governo para as figuras mais influentes do budismo. “Esses setores da população estão completamente proibidos de compartilhar ou falar sobre o budismo ou qualquer coisa educacional sem a permissão do governo chinês”, disse. “Eles nem mesmo têm permissão para imprimir qualquer tipo de documento religioso”. 

Monastério Drepung, em Lhasa, Tibete (Foto: Birger Hoppe/Flickr)

Enquanto a repressão online pode ser enquadrada no campo da censura, fora da rede mundial de computadores os casos registrados são carregados de violência. Em setembro do ano passado, as autoridades chinesas foram acusadas de prender e torturar cinco tibetanos que rezaram em público pela saúde do Dalai Lama. Um dos homens morreu em função da violência.

Em janeiro deste ano, foi revelado que Rongwo Gangkar, um monge tibetano conhecido por sua obra literária e desaparecido desde 2021, está em poder da polícia chinesa sob acusação de “separatismo”, por ter iniciado um debate sobre o Dalai Lama durante uma reunião informal com outros escritores.

“O governo chinês não apenas negou a liberdade básica de expressão dos tibetanos, mas agora os escritores tibetanos e aqueles que são influentes estão completamente proibidos de compartilhar qualquer coisa”, disse Pema Gyal, pesquisador do grupo humanitário londrino Tibet Watch.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, Beijing tem intensificado o controle sobre a religião no país, parte de um processo de “sinicização” da fé. No início de dezembro de 2021, no Encontro Nacional Sobre Assuntos Religiosos do PCC, o presidente chinês Xi Jinping havia deixado clara a intenção de colocar a religião sob o guarda-chuva da sigla.

“Devemos manter o trabalho religiosos na direção essencial do partido. Devemos continuar a direcionar nosso país para a sinicização da religião. Devemos continuar a pegar o grande número de crentes religiosos e uni-los em torno do partido e do governo”, disse o líder nacional no evento.

A perseguição religiosa tem sido sentida por todas as fés, desde budistas até católicos. No Tibete, o processo de sinicização, que visa a tornar a região culturalmente mais próxima dos padrões chineses, já resultou na prisão de inúmeras figuras populares, incluindo ativistas que trabalham nos campos da cultura, religião, língua e música tibetanas, sob alegação de que estariam fomentando o “separatismo”.

Entretanto, o principal expoente do desafio que os fieis enfrentam na China é a etnia muçulmana dos uigures, que habitam a região autônoma de Xinjiang, no noroeste do país, fazendo fronteira com nações da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas.

Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também adotaram a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

Em agosto de 2022, a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” cometidas em Xinjiang. O documento destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.

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