Cidadãos dos EUA foram os mais visados por esquema de espionagem chinês

Dados de cidadãos dos EUA representam 80% das informações vazadas do arquivo da chinesa Zhenhua

Maior do que se imaginava, o arquivo da empresa chinesa Zhenhua, vazado em 14 de setembro, levantou informações sobre 2,4 milhões de indivíduos de todo o mundo. Até agora, cidadãos dos Estados Unidos foram o maior alvo do monitoramento.

A conclusão veio após análise da professora da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, Anne-Marie Brady, em um artigo publicado no jornal norte-americano “Washington Post“.

Em sua pesquisa, Brady identificou que os EUA possuem 80% dos títulos do arquivo – são mais de 51,9 mil. Há dados que contemplam desde a elite política do país até capacidades militares, instalações e “estados mentais” das equipes de treinamento.

Nomes relacionados ao presidente Donald Trump têm grande espaço no arquivo. O genro e conselheiro sênior de Trump, Jared Kushner, possui mais de 560 menções, enquanto a filha do presidente, Ivanka Trump, aparece 1,9 mil vezes.

Maior volume de dados do arquivo chinês Zhenhua é voltado aos EUA
Ivanka Trump em pronunciamento na Pensilvânia, nos EUA, em setembro de 2016 (Foto: CreativeCommons/Michael Vadon)

Parceiros dos EUA também estão bem representados: o Reino Unido reúne mais de 9,7 mil nomes, enquanto o Canadá apresenta cinco mil e a Austrália, 2,7 mil.

A ênfase no EUA é consequência da disputa comercial e tecnológica que já deixa reflexos nas relações bilaterais e no alinhamento de parceiros históricos das duas nações.

Os sujeitos listados são definidos como “pessoas publicamente expostas”. Em seu site oficial, a Zhenhua orgulha-se em dizer que atende “agências de defesa e inteligência chinesas”.

“Isso oferece evidências concretas das tentativas globais do governo de Xi [Jinping] de construir relacionamentos entre as elites políticas”, disse Brady.

Emergentes foram incluídos

Com uma escala impressionante, a coleta da Zhenhua se estende por todo o mundo – mesmo em nações com pouco ou nenhum acesso à internet.

“Software de inteligência artificial não é suficiente”, destacou Brady. “Identificar os nomes de pessoas proeminentes em quase 200 países e territórios exige um conhecimento íntimo de cada sociedade”.

No Ártico, por exemplo, onde a China demonstra ter interesses militares, países como a Islândia, Ilhas Faroé e Groelândia apresentam a própria pasta de possíveis aliados comerciais e políticos.

Indivíduos da Estônia, Letônia e Lituânia, no Báltico, também figuram no arquivo. Os países são membros da iniciativa 17+One da China, que envolve a construção do Cinturão da Rota da Seda e outros projetos de infraestrutura na Ásia e Europa.

Entre as nações insulares do Pacífico, a ilha Fiji possui o maior número de dados: 143 nomes têm detalhes pessoais e profissionais na lista. No continente africano, quase todos os países possuem representação. A África do Sul encabeça a lista, com 1.096 nomes.

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