Uma unidade de inteligência militar da Rússia teria oferecido recompensa a militantes afegãos ligados ao Taleban que matassem forças da coalizão no Afeganistão, incluindo tropas dos Estados Unidos.
De acordo com o jornal norte-americano “The New York Times“, a descoberta foi feita há meses pelos oficiais de inteligência dos EUA. O fato chegou a ser discutida em uma reunião de diversas agências do governo na Casa Branca, em março.
A acusação é feita com base em interrogatórios de militantes e criminosos afegãos capturados pelos norte-americanos. Não é descrito como os alvos seriam escolhidos, como talebans e russos estariam se comunicando ou como seriam realizados os pagamentos.
Cerca de 20 norte-americanos teriam morrido no Afeganistão no ano passado, mas não há informações de quantas mortes estão sob suspeita.
As autoridades norte-americanas discutiram algumas opções para lidar com a situação. Entre elas estão uma queixa diplomática a Moscou, sanções contra o país e a exigência de que a Rússia pare com a oferta de recompensa. Nenhuma medida teria sido autorizada.
A ação é ligada ao braço da agência de inteligência militar russa, conhecido como GRU. A unidade estaria ligada ao envenenamento de Sergei Skripal, um ex-oficial do GRU acusado de traição, na Inglaterra, e à interferência na eleição dos EUA.
Caso se confirmem, as ofertas de recompensa seriam mais um passo russo na guerra híbrida contra os Estados Unidos. É parte da estratégia de desestabilização do adversário por meio de táticas como ciberataques, disseminação de fake news e operações militares encobertas.
Segundo o Times, o Kremlin não teria sido informado das acusações. Já o porta-voz do Taleban negou que os insurgentes tenham relações com qualquer agência de inteligência.
Postura norte-americana
O presidente Donald Trump adotou uma postura acomodatícia em relação a Moscou nos últimos meses. Essa decisão contradiz as orientações de alguns de seus conselheiros mais próximos, partidários de táticas mais agressivas contra os russos.
Em 2018, o presidente norte-americano afirmou acreditar na negativa de Vladimir Putin sobre a suposta interferência do Kremlin na eleição presidencial de 2016 nos EUA. Também criticou projeto de lei que impunha sanções contra a Rússia, após aprovação da proposta, sem chance de veto, pelo Congresso.
Logo antes da denúncia, o Executivo norte-americano havia sinalizado interesse em convidar a Rússia para a reunião ampliada do G7. O convite ocorreria em meio a tensões entre as forças armadas dos dois países, com interceptação de aviões militares russos e norte-americanos em território internacional.
Guerra no Afeganistão
Trump tenta fazer um acordo de paz com o Taleban para acabar com a guerra no Afeganistão. Em fevereiro, as duas partes firmaram um acordo que prevê a retirada todas as tropas, aliados e civis não-diplomáticos do país em um prazo de 14 meses.
Em contrapartida, os insurgentes devem evitar que grupos terroristas, como Al-Qaeda e Estado Islâmico, utilizem territórios afegãos controlados pelo Taleban para ataques contra os norte-americanos e seus aliados.
No início deste ano, quatro norte-americanos foram mortos em combate em território afegão. Porém, o Taleban não atacou tropas dos EUA desde o acordo.
Os militares norte-americanos também reduziram drasticamente suas ações no país desde o início da pandemia do novo coronavírus.
Já houve acusação, por parte dos norte-americanos e afegãos, de que a Rússia fornecia armas e outros tipos de apoio ao Taleban. As autoridades russas negam.
No Brasil
Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino. Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos. Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.